quarta-feira, 10 de setembro de 2008

Acto de Caça ou Oportunismo?

Caçar ao Javali em milheirais
Um acto cinegético, uma necessidade ou um oportunismo

Convêm começar por dizer que o Javali foi uma espécie cinegética abundante e que sofreu uma grande regressão desde o inicio do século XX, ficando restrita a sua existência a zonas fronteiriças serranas.
Em 1967 um decreto interditou a caça ao javali em terrenos não murados. Os anos passaram e devido a este importante decreto, os anos setenta denunciaram um aumento significativo dos efectivos desta espécie.
Em 1981,a então Direcção de serviços de Caça da Direcção Geral de Florestas, organizou a primeira montaria destes novos tempos e em 1982 passa a autorizar outro processo de caça ao javali: as Esperas.
No seguimento desta evolução, e porque o crescimento estava a ser sustentado, com o fim de diminuir os prejuízos causados pelos javalis, foi aprovada a lei de bases Gerais da Caça em 1986, sendo esta regulamentada por decreto em 3 de Agosto de 1988 e revogada pela lei nº 173/99 de 21 de Setembro, regulamentada pelo decreto-lei nº 202/2004 de 18 de Agosto e nova redacção que lhe foi conferida pelo decreto-lei nº 201/2005 de 24 de Novembro. Os estragos das culturas e cementeiras passavam a estar previstos nas leis da caça
Afinal onde se enquadra esta história das caçadas em milheirais fora de época e sempre suportadas por credenciais das Florestas? A resposta é simples e unânime. Todas elas têm por base os estragos provocados pelos Javalis.
O problema é que nestes pais de gente esperta rapidamente se transformou uma necessidade em um oportunismo. Organizam-se batidas para matar muito e render milhares. Hoje em dia, em Portugal, em 80% das caçadas efectuadas nos milheirais, o objectivo é oportunista e ganancioso, sempre suportado pela desculpa dos estragos.
Se têm duvidas, eu explico. A grande parte das caçadas nos milheirais é feita dias antes da entrada das máquinas para a colheita do milho. Outras até conseguem (pasme-se), ser feitas aquando da colheita do milho, e outras, ainda se dão ao luxo de se bater os javalis de milheiral a milheiral. Quem não sabe da existência de herdades que fazem 4 e 5 batidas em semanas seguidas, conforme o milho vai sendo apanhado...
Claro que não se pode generalizar, existindo mesmo casos, onde os estragos são muitos, os prejuízos avultados e onde a única solução é a batida ou Montaria (nome este, que me nego a dar a esta forma de caçar javalis).
· Mas se esta “coisa” tem o nome de Montaria, onde ficam as regras que as regem? Onde estão os princípios de segurança, tendo os caçadores carabinas nas mãos e dando tiros em linha recta? Onde estão os princípios de Monteiro? Caso não saibam, nestas ditas Montarias são colocadas portas de 40 em 40 metros, transformando a linha de “Caçadores” ou” Matadores” numa rede dificilmente transponível e onde desde o listado, passando pelos farropos até às javalinas prenhas, tudo morre, para perfazer um número elevado de abate.
Camuflados pela desculpa dos estragos, por uma questão unicamente monetária, proprietários de milheirais tiram rendimentos em todas as frentes: ganham dos subsídios, ganham das chacinas que organizam e ganham do milho que nunca chegou a ser comido, e que é vendido nas cooperativas.
Pouco ou nada me interessa o que esses senhores ganham ou deixam de ganhar com estes oportunismos no meio da caça. O que me preocupa é que com estes erros de gestão e com este facilitismo no passar das credenciais por parte das Florestas, caminhamos a passos largos para situações iguais aquelas que aconteceram nos inícios do século XX.
O javali é uma espécie cinegética que tem de ser gerida, tem de ser controlada, mas principalmente, tem de ser protegida destes excessos de pressão do inicio do século XXI.
Espero sinceramente que tal como em 1967, seja rapidamente interdita a caça aos javalis em Milheirais e fora de época.

9 de Setembro de 2008
Nelson Neves

1 comentário:

Capitão Fantasma disse...

mais uma grande "berduada" amigo nelson... gostei imenso

abraços